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Outros Cadernos de Saramago

Outros Cadernos de Saramago

31 Dez, 2010

Por um ano melhor

O que cada um de nós deve fazer em primeiro lugar, pois não temos outro remédio, é respeitar as nossas próprias convicções, não calar, seja onde for, seja como for, conscientes de que isso não muda nada, mas que ao fazê-lo, pelo menos tenho a certeza de que eu não estou a mudar.“José Saramago: ‘La izquierda no tiene ni una puta idea del mundo”, Veintitrés, Argentina, 7 de Fevereiro de 2002In José Saramago nas Suas Palavras
30 Dez, 2010

Catastrofista?

Com a globalização, a OMC vai transformar tudo num grande mercado. Já não se trata do pensamento único, mas do pensamento zero. E talvez pareça catastrofista, mas o que é que promete uma situação como esta?“Escritores ante el III milenio (I). José Saramago: ‘El progreso beneficiará sólo a una minoría”, El Mundo, Madrid, 3 de Janeiro de 2000In José Saramago nas Suas Palavras
28 Dez, 2010

Uma sociedade viva

Nada me causa mais desagrado do que ouvir um político dizer que não há que causar alarme social. A sociedade tem de estar alarmada, é a sua forma de estar viva.“José Saramago: ‘La globalización es el nuevo totalitarismo", Época, Madrid, 21 de Janeiro de 2001In José Saramago nas Suas Palavras

Não são só as pequenas livrarias que estão a chegar ao seu fim, é todo o pequeno comércio. O que se quer? Que as pessoas se solidarizem com o pequeno comércio? Não, as pessoas procuram os seus interesses e encontram tudo no centro comercial, compram no centro comercial. Há uma coisa que não se diz, é que no centro comercial não é preciso falar, ao contrário das lojas, uma pessoa pega no que precisa, paga e vai-se embora. Temos de assumir que há coisas que já não são necessárias, e o mundo não se pode transformar num museu. O problema não está tanto na existência do centro comercial; está tudo no deslocamento do poder. As multinacionais é que mandam e os centros comerciais são pontos de implantação de um sistema económico, o nosso. O problema que se coloca é: que tipo de vida queremos? O único lugar público seguro que existe é o centro comercial, como antes era o parque, a rua, a praça. Não tenho saudade de outro tempo, mas temos de nos referir ao passado para entendermos o presente. O centro comercial é a nova catedral e a nova universidade: ocupa o espaço de formação da mentalidade humana. Os centros comerciais são um símbolo. Não tenho nada contra eles, o que estou é contra uma forma de ser, de um espírito quase autista de consumidores obcecados pela posse de coisas. É aterradora a quantidade de coisas inúteis que se fabricam e se vendem. E o Natal é uma ocasião estupenda para comprovar isso.“José Saramago: ‘La globalización es el nuevo totalitarismo", Época, Madrid, 21 de Janeiro de 2001In José Saramago nas Suas Palavras
23 Dez, 2010

Lições de vida

A educação preocupa-me muitíssimo, sobretudo porque é um problema muito evidente, claro e transparente e ninguém faz nada a este respeito. Confundiu-se a instrução com a educação durante muitos anos e agora estamos a pagar as consequências. Instruir é transmitir dados e conhecimentos. Educar é outra coisa, é transmitir valores [...] Há décadas, o que havia era um Ministério da Instrução Pública, não da Educação. A educação era outra coisa. Se para ser educado tivesse que ter sido instruído previamente, eu seria uma das criatura mais ignorantes do mundo. Os meus familiares eram analfabetos, como me iriam instruir? É impossível. Mas sim, educaram-me, sim, transmitiram-me os valores básicos e fundamentais. Vivia numa casa paupérrima e saí dali educado. Milagre? Não, não há nenhum milagre. Aprendi a vida e a lição dos mais velhos quando nem eles mesmos sabiam que me estavam a dar lições.“Vivimos en una sociedad que carece de educación”, Canarias 7, Las Palmas de Gran Canaria, 4 de Fevereiro de 2007In José Saramago nas Suas Palavras
22 Dez, 2010

Algo natural

No meu caso, não esquecer foi algo natural em mim. Não quis recordar nem esquecer. O passado é passado, mas manteve-se intacto na minha cabeça, na minha memória.“José Saramago. México vive un proceso de confusión”, La Jornada, México D. F., 27 de Novembro de 2006In José Saramago nas Suas Palavras
21 Dez, 2010

Do tempo do livro

Parece-me completamente impossível ler num ecrã de computador. Lamento. Sou do tempo do livro, do papel. Uma pessoa pode deixar cair uma lágrima sobre um livro. É mais difícil deixar cair uma lágrima sobre um computador. Creio que o livro, apesar de tudo, perdurará.“Saramago afirma que ‘hay que vivir a la contra’ al inaugurar la Feria del Libro de Sevilla”, El País, Madrid [Edición Andalucía], 13 de Maio de 2006In José Saramago nas Suas Palavras
20 Dez, 2010

Outro barco

Vejo-me como o náufrago de um barco que se afunda. Alguém que está a ponto de afogar-se mas há uma tábua a que se agarra. É a tábua dos princípios. Tudo o resto pode desmoronar-se, mas agarrado a ela, o náufrago chegará a uma praia. E depois, com essa tábua poderá construir outro barco, evitando cometer os erros de antes. Com esse barco tentará chegar a outro porto.“José Saramago: ‘La honestidad no está de moda”, La Nación, Buenos Aires, 11 de Maio de 2003In José Saramago nas Suas Palavras

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