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Outros Cadernos de Saramago

Outros Cadernos de Saramago

31 Ago, 2010

Feras contra feras

Falo de uma mudança que levasse as pessoas a pensar que isto não é bastante para viver como ser humano. Não pode ser. Se nós nos convertemos em pessoas que só se interessam pelos seus próprios interesses, vamos converter-nos em feras contra feras. E aliás é isto o que está a acontecer.“A literatura não muda o mundo”, O Globo, Rio de Janeiro, 14 de Agosto de 1999
30 Ago, 2010

Apenas uma minoria

Deveríamos pensar que cada conquista do progresso não pode ir contra as vidas humanas. Não há muitos anos falava-se do progresso científico e moral. Dizia-se que havia que desenvolver um sem deixar o outro para trás. Não sei muito bem o que se entende por progresso moral. Mas se lhe chamássemos respeito humano, talvez pudéssemos resolver o problema que o progresso científico nos coloca. O progresso beneficia apenas uma minoria.“Escritores ante el III milenio (I)". José Saramago: ‘El progreso beneficiará sólo a una minoría”, El Mundo, Madrid, 3 de Janeiro de 2000

Talvez a história do homem seja um enorme movimento que nos leve à humanização. Talvez não sejamos mais que uma hipótese de humanidade e talvez se possa chegar a um dia, e esta é a utopia máxima, em que o ser humano respeite o ser humano. Para chegar a isso se escreveu o Ensaio sobre a Cegueira, para perguntar a mim mesmo e aos leitores se podemos continuar a viver como estamos vivendo e se não há uma forma mais humana de viver que não seja a da crueldade, da tortura e da humilhação, que são o pão desgraçado de cada dia.

“Escribí para saber si hay una forma más humana de vivir que no sea la crueldad”, La Voz de Lanzarote, Lanzarote, 25 de Junho de 1996

Nem a história chegou ao fim, nem acabaram as revoluções. O meu optimismo contenta-se com estas certezas. O resto são dúvidas. Como? Quando? Onde? Isso não o sei, mas sucederá.“Soy un grito de dolor e indignación”, ABC (Suplemento El Semanal), Madrid, 7-13 de Janeiro de 2001
19 Ago, 2010

Deveres Humanos

Depois de milénios de civilizações e culturas, os deveres humanos encontram-se inscritos nas consciências, inclusivamente quando aparentamos ignorá-los ou desprezá-los. Não há que escrever uma Carta dos Deveres Humanos, há que apelar às consciências livres para que a manifestem e a assumam.“Soy un grito de dolor e indignación”, ABC (Suplemento El Semanal), Madrid, 7-13 de Janeiro de 2001

Os direitos humanos… quantos se cumprem?, por que não se cumprem?, de quem é a responsabilidade pelo seu não cumprimento? A batalha que vale a pena no século que entra é a batalha pelos direitos humanos, e a tendência é para perdê-la se não reagimos a tempo […] Há uma incompatibilidade radical entre globalização económica e direitos humanos.“Saramago e a luta pelos direitos humanos”, Revista In Formación, Madrid, nº 8, Julho de 2000

Há um problema ético grave que não parece estar a caminho de ser resolvido: Depois da segunda Guerra Mundial discutia-se na Europa sobre progresso tecnológico e progresso moral, se podiam avançar a par um do outro. Não foi assim, pelo contrário, o progresso tecnológico disparou a alturas inconcebíveis e o chamado progresso moral deixou de ser, pura e simplesmente, progresso e entrou em regressão.11 de Outubro de 2008, Expresso (Portugal)

O mundo necessita de uma forma distinta de entender as relações humanas e a isso é que chamo insurreição ética. Cada um tem que pensar: Que estou a fazer neste mundo? A ideia de respeito pelo outro como parte da própria consciência poderia mudar algo no mundo.“Antes el burócrata típico era un pobre diablo, hoy registra todo”, La Nación, Buenos Aires, 13 de Dezembro de 2000

Eu creio que estamos necessitados, efectivamente, de uma insurreição […] Sim, uma insurreição, uma insurreição ética, mas não no sentido corrente, moralizador, porque no fundo seria ir pelo mesmo caminho. Eu diria, antes, uma ética da responsabilidade.“Saramago entre nosotros”, Magna Terra, Guatemala, nº 8, Março-Abril de 2001
12 Ago, 2010

Não foi a economia

Não foi a economia portuguesa ao longo dos séculos que mentalmente fez de mim o que sou; foi essa ideia de Deus, de um Deus particular que criou a Terra e os céus, o ser humano, Adão e Eva, depois Jesus, a Igreja, os anjos, os santos e depois a Inquisição.Juan Arias, José Saramago: O amor possível, Barcelona, Planeta, 1998

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