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Outros Cadernos de Saramago

Outros Cadernos de Saramago

12 Nov, 2010

Uma amálgama

Para mim, o importante seria que as culturas da Europa se conhecessem até ao último detalhe, que houvesse uma corrente cultural contínua passando de país em país, quando o que se está a fazer é uma amálgama que diluirá as diferenças para fazer algo que tem um patrão. Quem é esse patrão? Nunca ninguém me responde a essa pergunta.“José Saramago, un discurso solitario”, La Vanguardia, Barcelona, 13 de Outubro de 1987In José Saramago nas Suas Palavras

Se olharmos as coisas de perto, na melhor das hipóteses chegaremos à conclusão de que as palavras tentam dizer o que pensámos ou sentimos, mas há motivos para suspeitar que, por muito que procurem, não chegarão nunca a enunciar essa essa coisa estranha, rara e misteriosa que é um sentimento.“Las palabras ocultan la incapacidad de sentir”, ABC (Suplemento ABC Literario), Madrid, 9 de Agosto de 1996In José Saramago nas Suas Palavras

Nunca ouviremos ninguém dizer que está decepcionado com o capitalismo. Porquê? Porque o capitalismo não promete nada. No entanto, como o socialismo é uma ideologia repleta de promessas também está cheia de decepções.“Hay que volver al compromiso: el escritor tiene que decir quién es y qué piensa”, Faro de Vigo, Vigo, 19 de Novembro de 1994In José Saramago nas Suas Palavras
05 Nov, 2010

Até ao limite

Tendo nascido para trabalhar, seria uma contradição abusarem do descanso. A melhor máquina é sempre a mais capaz de trabalho contínuo, lubrificada que baste para não emperrar, alimentada sem excesso, e se possível no limite económico da simples manutenção, mas sobretudo de substituição fácil, se avariada está, velha outra, os depósitos desta sucata chamam-se cemitérios, ou então senta-se a máquina nos portais, toda ela ferrujosa e gemente, a ver passar coisa nenhuma, olhando apenas as mãos tristíssimas, quem me viu e quem me vê.In Levantado do Chão, Ed. Caminho, 18.ª ed., p. 327

A pergunta que todos deveríamos fazer-nos é: Que fiz eu se nada mudou? Deveríamos viver mais no dessassossego. Não haverá amanhã se não mudarmos o hoje. Como se conta em A Caverna, tudo o que levamos às costas é passado e todo esse passado, incluindo a desesperança e a desilusão, é o que influencia o amanhã. Há que fazer o trabalho todos os dias com as mãos, a cabeça, a sensibilidade, com tudo.“Antes el burócrata típico era un pobre diablo, hoy registra todo”, La Nación, Buenos Aires, 13 de Dezembro de 2000In José Saramago nas Suas Palavras
03 Nov, 2010

Não é o escritor

Não é o escritor, se me coloca a questão a mim, quem intervém em Chiapas com os Sem Terra ou com os presos de La Tablada ou em África. Eu diria: "Sim, eu sou escritor, mas que está a tentar intervir em tudo isso é uma pessoa que se chama José Saramago". Que essa pessoa seja escritor e que, pelo facto de ser escritor, o que faz como cidadão seja mais importante para todos outros, pois estupendo! Aí radica o compromisso do cidadão que eu sou.“Entrevista a José Saramago”, Biblioteca Nacional de Argentina-Sala virtual de lectura, Buenos Aires, 12 de Dezembro de 2000In José Saramago nas Suas Palavras

O destino das revoluções é converterem-se no seu oposto. As revoluções acabam sempre atraiçoadas por uma simples razão: pela renúncia dos cidadãos a participar […] A doença mortal das democracias é a renúncia do cidadão a participar. Os primeiros responsáveis somos nós ao delegar o poder noutra pessoa que, a partir desse momento, passa a controlá-lo e a usá-lo […].Andrés Sorel, José Saramago. Una mirada triste y lúcida, Madrid, Algaba Ediciones, 2007In José Saramago nas Suas Palavras

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